Desde o tipo de desejos da grávida durante a gestação à frequência dos enjoos matinais, há vários sinais que, segundo as crenças populares, permitem adivinhar o sexo biológico do bebé, mesmo antes de o médico o anunciar. Uma destas supostas pistas é o formato da barriga da gestante.

A teoria dos mais antigos é a seguinte: se a barriga for pontiaguda, nascerá um menino; se for mais arredondada, será uma menina.

Esta crença tem passado de geração em geração. Mas será que a ciência a valida? Há alguma relação entre o formato da barriga da grávida e o sexo biológico do bebé?

O formato da barriga “denuncia” o sexo biológico do feto?

O suposto dom de adivinhar o sexo biológico do bebé tendo por base o formato da barriga da mãe não passa de um palpite com 50% de probabilidade de acertar.

Na verdade, não existe qualquer evidência científica que comprove que a aparência ou o formato da barriga esteja relacionada com o sexo biológico do bebé. Mais ainda: não existe qualquer alteração externa que indique o sexo da criança.

“Esta teoria nada mais é que um mito”, afirma Alexandra Matias, assistente graduada no departamento de Ginecologia e Obstetrícia do Hospital de São João e professora catedrática na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, em declarações ao Viral.

A especialista explica que “há casos em que a especulação é correta, mas será provavelmente coincidência”, uma vez que “não existe base científica” que a comprove.

A vice-presidente da Sociedade Portuguesa de Obstetrícia e Medicina Materno Fetal e médica obstetra do Centro Hospitalar Universitário de Coimbra, Ana Luísa Areia, também adianta que “não há estudos científicos que provem a tradicional informação de que a barriga redonda ou bicuda ocorre de acordo com o sexo biológico do bebé”.

As duas especialistas avançam ainda que, além da barriga, também não existe qualquer diferença visível externamente que esteja relacionada com sexo biológico do bebé. 

Além disso, também não é verdade que os fetos femininos assumam posições diferentes no útero das dos fetos masculinos, não havendo alterações na forma da barriga consoante o sexo biológico.

Durante a gravidez, a barriga muda de formato. Isto é influenciado pela posição que o bebé ocupa num determinado momento. Alexandra Matias dá alguns exemplos: “Se estiver sentado, pode sentir-se uma zona mais dura na parte de cima; se estiver de lado, a barriga fica maior sobre o eixo transversal”.

Outro fator que pode contribuir para uma aparência diferente da barriga é a estrutura do corpo da mãe: “Sabemos que o formato da barriga materna depende da genética, que determina o formato da pélvis e da estrutura muscular [da mulher]”, acrescenta Ana Luísa Areias.

Além disso, “a existência de diástases dos músculos grandes retos abdominais” pode também ter influência nas características da barriga.

A diástase é uma condição que se caracteriza pelo afastamento dos músculos abdominais paralelos, que está relacionada com a gravidez e pode estender-se no pós-parto. Com o crescimento do feto, os músculos alongam e tornam-se mais frágeis, tornando o ventre mais flácido.

“A diástase faz com que não haja suporte muscular e o formato da barriga fica dependente do formato do útero”, acrescenta Ana Luísa Areias.

Alexandra Matias sublinha que, atualmente, as únicas formas de saber “com 99% de sensibilidade” se o bebé é do sexo feminino ou masculino é através da “ecografia obstétrica e do ADN fetal livre no sangue da mãe”.

Em suma, o formato da barriga da grávida não tem qualquer relação com o sexo biológico do feto. Além disso, não existem alterações externas no corpo da mãe que denunciem se o bebé em gestação é do sexo feminino ou masculino. As interpretações são apenas palpites com 50% de possibilidade de acertar.